abr 1, 2024

Observatórios formam coalizão para fortalecer o controle social nos estados da Amazônia Legal

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Representantes de seis observatórios da Amazônia Legal compartilharam expertises de monitoramento: Rudja Santos, Luti Guedes, Daniela Dias, Edilene Fernandes, Paulo Bonavigo e Fermanda Meirelles

Como resistir e enfrentar as diversas ameaças que se impõem na região amazônica, como os retrocessos legais, incêndios, invasões, desmatamento, crime organizado e desinformação? Essa foi a questão norteadora dos painéis e debates que movimentaram os três dias do encontro “Fortalecendo os Observatórios da Amazônia Legal”, realizado em Cuiabá, de 25 a 27 de março. 

O evento reuniu lideranças, comunicadores, ativistas e ambientalistas que compartilham dos mesmos desafios e que ainda têm de estar alerta às especificidades dos seus territórios. Mais de 40 organizações e seis observatórios com atuação na Amazônia Legal estiveram representados. 

Os participantes do encontro voltam às bases com o ânimo renovado sob a perspectiva da formação de uma rede de atuação, que somará esforços na missão de cobrar políticas públicas, garantir proteção ambiental, atuar em defesa do desenvolvimento sustentável e na luta contra a violação de direitos. 

Foi o Instituto Centro de Vida (ICV) e o Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT), realizadores do evento, que detectaram a necessidade de reunir forças locais amazônicas que atuam sob as diretrizes do controle social, via incidência política, jurídica, de articulação ou comunicação, entre outros, para traçar estratégias em alinhamento.

Alice Thuault aponta que observatórios são mecanismos dos mais efetivos para incluir a sociedade civil nos espaços de poder

A diretora Executiva do ICV, Alice Thuault destaca que os participantes do encontro tiveram acesso a diferentes expertises. “Foram ativadas as conexões entre grupos que estão mobilizados nos estados e territórios, que têm metodologias próprias e que vivenciam no dia a dia a luta para proteger as florestas, fronteiras, direitos e modos de vida”.

Dessa forma, foram pensadas várias soluções para os desafios da Amazônia Legal. “E o modelo dos observatórios é uma das soluções mais efetivas”, avalia Alice. A esse contexto estão inseridos também, os monitoramentos dos territórios realizados pelas próprias comunidades, incidência sobre a agenda cultural e estratégias de comunicação. Com ênfase nesta frente, Alice explica que é preciso encarar a comunicação como uma potente ferramenta. “Afinal, a máquina de desinformação também pode levar a floresta a um ponto de não-retorno”, alerta.  

Neidinha, Kim e Eliane falaram sobre experiências de monitoramento nos territórios indígenas

O primeiro dia foi marcado por painel de abertura no qual Neidinha Suruí, da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé (RO), a presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Eliane Xunakalo e Kim Suruí, do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, falaram sobre monitoramento de territórios indígenas.

A Kanindé, por exemplo, tem colocado em prática, monitoramento dos territórios por drones e aposta ainda no Cinema como ferramenta de denúncia de violação de direitos. O documentário “O Território” que ajudou a idealizar, e o qual protagoniza, foi premiado no Emmy Awards 2023 na categoria Mérito Excepcional. Ao contar sobre o trabalho que a Kanindé tem desenvolvido, Neidinha realçou que é preciso garantir representatividade nos espaços de decisões. 

“Somos nós que vamos dizer aos políticos as políticas públicas que precisam ser implementadas. Somos nós que vamos dizer para o banco, financiadores e empresas privadas sobre o que o modelo de desenvolvimento econômico que precisamos. Então, temos que nos abrir ao diálogo com quem pensa diferente da gente”. Destacou ainda a importância do encontro. “Olha que momento importante. A gente teve um painel falando dos dados, das estratégias, de como podemos pensar a Amazônia a partir de quem vive e não ouvir o pessoal falar por nós”.

O painel sobre o qual fala, é o “Monitorando a Amazônia: O papel dos Observatórios nos estados”, que está disponível para visualização no canal do ICV no YouTube. Este, teve a participação de Edilene Fernandes, do Observa-MT; Paulo H. Bonavigo, do Observa-RO; Luti Guedes, do Observatório do Marajó (PA); Daniela Dias, Observa-AC; Fernanda Meireles, do Idesam e Observa-BR 319 e Rudja Santos, do Observatório do Amapá.

Os palestrantes falaram das suas experiências e da importância da atuação da sociedade civil – seja ela indígena, tradicional ou proveniente de grupos urbanos ou rurais, que vivenciam diretamente as consequências das ameaças e retrocessos -, além de compartilhar experiências para barrá-los e fazer com que os estados da Amazônia Legal avancem rumo à sustentabilidade. 

A consultora jurídica do Observa-MT, Edilene Fernandes destaca que o encontro marca o início de uma grande coalizão de observatórios. “Vimos que há muitas formas de se observar, de monitorar, a partir de diversas perspectivas e realidades dos territórios. Vai ser muito importante para reformular nossas ações, no caso do Observa-MT. Além do mais, saímos com resultados muito pragmáticos e ações formalizadas”.

Queila Couto representou a organização Malungu e anunciou que a criação de um Observatório Quilombola foi estimulada

A reunião foi tão positiva que Queila Couto, que é assessora jurídica da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu) já vislumbra a possibilidade de criação de um observatório com atuação específica. “Volto com a ideia de criar o Observatório Quilombola. Para a gente é muito importante pois temos em torno de 600 comunidades, das quais mais de 400 estão vinculadas à Malungu. Embora a regularização dos territórios ou a luta pela titulação seja bem forte, a gente tem outros desafios no âmbito do acesso dessas comunidades a políticas públicas”.

Marielle Ramires realçou a importância da comunicação e cultura como aliadas no enfrentamento aos desafios da Amazônia Legal

Já a co-fundadora do Fora do Eixo, Mídia Ninja e da Casa Ninja Amazônia, Marielle Ramires, avaliou que ficou nítida a importância dos observatórios na cobrança de transparência, de acesso livre à informação e para cobrar do Estado, num contraponto aos retrocessos legais, a formulação de políticas públicas positivas.

“É preciso fortalecer a luta socioambiental para garantia de direitos. E isso é possível com controle social e participação resiliente da sociedade civil. Mato Grosso, por exemplo, é um estado rico em sociobiodiversidade. Precisamos que isso seja valorizado pelo Estado, em contraponto às monoculturas que são hegemônicas e pouco sustentáveis. Nesse sentido, a comunicação e a cultura são ferramentas fundamentais para garantirmos que as diferentes formas de viver e produzir sejam respeitadas”.

Ao avaliar o encontro, Marielle diz que foi singular a reunião de inteligências diferentes, com experiências diferentes. “Voltam às suas bases, se estimulam, se fortalecem. E assim, idealizam soluções coletivas necessárias para crises tão diversas que estamos enfrentando no mundo”.

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